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domingo, 13 de abril de 2008

Ovelhas de um Pastor muito especial (Jo 10,1-10) (13/04/08)

OVELHAS DE UM PASTOR MUITO ESPECIAL

 

LINGUAGEM: Entendendo as figuras Pastor e ovelhas

Para uma compreensão mais apurada do sentido que Jesus quer dar a esta parábola, precisamos entender qual o significado da atividade pastoril entre o povo de Israel.

        A maior parte da Judéia era uma planície de solo áspero e pedregoso, mais adequado ao pastoreio que à agricultura. A erva era escassa e o rebanho devia transladar-se continuamente, não havia cercas e isso requeria a constante presença do pastor entre o rebanho. Uma viajante do século passado nos deixou um retrato do pastor da Palestina de então: "Quando o vemos em uma elevada pastaria, insone, com o olhar que perscruta a distância, exposto às intempéries, apoiado em sua vara, sempre atento aos movimentos do rebanho, então entendemos por que o pastor adquiriu tal importância na história de Israel, que deu este título a seu rei e Cristo o assumiu como emblema e sacrifício de si!"

A ovelha, por sua vez, é um animal quase totalmente dependente. Domesticada, possui características que a deixam bastante vulnerável a ataques de animais selvagens como lobos e hienas. É facilmente dominada pelo ser humano que pode obrigá-la a ir onde não quer sem muito trabalho. Ao ser morta a ovelha não oferece nenhuma resistência: não esperneia, não faz alarde; morre calada como que oferecendo sua vida ao seu algoz. Não é à toa que o Messias  é comparado com o cordeiro, conduzido a matadadouro: "Foi maltratado e resignou-se, não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador" (Is 53, 7).

Portanto, trata-se de um animal totalmente dependente dos cuidados do ser humano, na figura do pastor.

  

AMBIENTAÇÃO: Colocando o texto no contexto

 

O trecho de João 10,1-10 está intimamente relacionado com o trecho imediatamente anterior: a cura do cego de nascença. Jesus está em Jerusalém para a Festa das Tendas, que no calendário religioso de Israel marca a lembrança do tempo em que o povo viveu no deserto, habitando em tendas, entre a libertação no Egito e a conquista da Terra Prometida. Jerusalém, portanto, está lotada de hebreus vindos de suas cidades para esta festa e o templo é o lugar para onde todos convergem.

Ao passar por ali, vendo um homem que era cego de nascença, Jesus o cura. Era sábado e segundo a tradição judaica, é proibido fazer qualquer trabalho no sábado. Até a quantidade de passos é contada de modo a reverenciar o Senhor da Criação que em seis dias criou o céu e a terra e tudo o que neles há e no sétimo, descançou. A notícia logo se espalha e chega aos ouvidos dos fariseus que condenam a atitude de Jesus. Ele, então, solta uma frase que incomoda os fariseus: vim para os que não vêem vejam, e os que vêem tornem-se cegos (9, 39). E aqui começa o nosso texto quando Ele se declara como a porta por donde deve entrar quem se considere pastor de Israel.

 

 

Digo-vos a verdade: quem não entra para o redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador.

 

Existem ainda hoje, na Mongólia, certas tribos nômades, que vivem em circunstâncias muito parecidas com aquelas da antiga Palestina quando o assunto é o pastoreio de seus rebanhos. Se bem que quando falamos em povo nômade estamos nos referindo a um grupo de vários indivíduos que continuamente perambulam num território em busca de condições de sobrevivência para seu rebanho. No caso específico de Israel a atividade de pastor era exercida individualmente, um pastor para um rebanho. Era uma vida difícil, de extrema doação e dedicação permanente. Sem contar que o exercício da profissão de pastor tratava-se de trabalho para homens desqualificados. Quando José, então o segundo homem mais importante do Egito, introduziu sua família de pastores ao Faraó, advertiu-os que a profissão de pastores era abominável para avançada civilização egípcia, e de fato o era. Até em Israel, quando o profeta Samuel foi à casa de Jessé ungiu o rei de Israel que DEUS escolhera, foram lhe apresentados seis moços varões de guerra, mas a todos o SENHOR rejeitou e nada mais foi dito. Samuel obrigou-se a perguntar se não havia mais nenhum filho quando foi informado que sim, havia ainda um, o menor e, como tal, estava lá guardando ovelhas. Seu nome era Davi e foi ele o escolhido e ungido para ser o rei de Israel (1 Sm 16,1-13). Propositalmente Deus afronta todos esses referenciais humanos. Ele não escolhe as pessoas pelas roupas que usam, pelos carros que têm ou pelo grau de qualificação profissional da atividade que desempenham. Escolhe pelo grau de amor que demonstram, pela sua capacidade de doação. Assim, por mais que a vida de pastor seja para gente considerada ralé, Jesus assume para si esta profissão para indicar que não é o cargo que faz o homem, mas o homem ao cargo. Ele profere estas palavras diretamente para os fariseus, que se achavam os mestres, a "nata" da sociedade e tratavam com desprezo todo o "resto" do povo. Eles não querem servir, doar-se em favor de ninguém. Eles são extremamente egoístas, interessando-se apenas por aquilo que lhes convém. Preferem ser servidos a servir. Em outra ocasião Jesus declarara: "Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros. Eles usam faixas largas, com trechos da Escritura, na testa e nos braços, e põem na roupa longas franjas. Gostam de lugar de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas. Gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de Mestre" (Mt 23, 5-7).

Então Jesus declara: quem não entra para o redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lado, é ladrão e salteador.

Voltemos às funções do pastor para entendermos bem essas palavras.

Vida de pastor é vida dura. Renuncia a tudo para estar com as ovelhas! Vida social? Muito pouca! Durante o dia o pastor é obrigado a conviver com temperaturas de até 47 graus centígrados. Por isso tem que usar todo seu conhecimento e sua energia para levar as ovelhas a lugares menos quentes que ofereçam alguma pastagem. Durante a noite a temperatura cai vertiginosamente para 10 graus abaixo de zero. No curso de um dia a temperatura pode variar 37 graus. Além da baixa temperatura, à noite o pastor tem que se preocupar também com predadores como os lobos e hienas e com saqueadores. Ponha-se no lugar de um lobo faminto ou de alguém mal intencionado, num lugar ermo, à noite, diante de um rebanho inteiro de animaizinhos tão tenros quanto ovelhas. Ficou tentado? POIS saiba que é isso que está passando pela cabeça do pastor. E aqui entra um elemento importante: o redil, também chamado de aprisco, que em nosso linguajar poderíamos chamar de curral. Consistia em um cercado de pedras, geralmente sem teto, sobre o qual existia um tapume de galhos espinhosos, que também podia ser uma cerca viva, para que as feras como lobos e cães selvagens não pudessem pular para dentro. Durante a noite o pastor ali concentrava  as ovelhas e parece que existia o costume do pastor dormir junto ao portão para ser despertado caso o ladrão quisesse entrar pelo portão. É claro que estes espaços não eram particulares de um ou de outro pastor, mas espaços compartilhados e, como tais, era comum, numa mesma noite, encontrarem-se ali aglomeradas ovelhas de diferentes donos. Quando isso acontecia, elegia-se um guardião e unicamente os pastores donos da porção correspondente de ovelhas, conhecidos pelo guardião de turno podiam entrar pelo portão.

        Com isso, fica-nos mais fácil a compreensão das palavras de Jesus: as ovelhas são o povo de Israel. Quem não é verdadeiro pastor terá que tentar outro caminho que conduza ao povo que não seja o caminho correto, a porta. Portanto, os fariseus, que não tratam o povo com amor e misericórdia, mas usam de suas posições para oprimí-lo e subjulgá-lo, muitas vezes com violência e morte, apoiando-se na lei, são os ladrões e salteadores. Portanto, não são verdadeiros pastores. Não buscam o bem das ovelhas, mas o proveito próprio que delas podem obter. São eles que insitarão a multidão para condenar Jesus à morte.

 

Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre a porta; e as ovelhas escutam a sua voz, quando ele chama por elas uma a uma pelos seus nomes e as faz sair. Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas. As ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Mas, um estranho nunca o seguem; antes pelo contrário, fogem dele, porque não conhecem a voz de estranhos. Jesus contou esta parábola, mas não compreenderam o que dizia.

 

O pastor pode entrar pela porta do aprisco. As ovelhas escutam e conhecem a sua voz porque todos os dias ele está com elas, cuidando, protegendo, orientando, mostrando o caminho para as verdes pastagens e para as águas que fornecem o refrigério. Ele as trata com amor e elas nele confiam. Elas sabem que a vida dele está dedicada na sua totalidade a cuidar delas e, se for o caso, defender a vida delas com a própria vida. Como falamos, o pesadelo dos pastores de Israel eram os animais selvagens - lobos e hienas - e os salteadores. Em lugares tão isolados, constituíam uma ameaça constante. Era o momento em que se evidenciava a diferença entre o verdadeiro pastor - que apascenta as ovelhas da família, que tem a vocação de pastor - e o assalariado, que se põe ao serviço de algum pastor só pelo pagamento que recebe dele, mas que não ama, e inclusive freqüentemente odeia as ovelhas. Frente ao perigo, o mercenário foge e deixa as ovelhas à mercê do lobo ou do malfeitor; o verdadeiro pastor enfrenta valentemente o perigo para salvar o rebanho. Isso explica por que a liturgia nos propõe o Evangelho do bom pastor no tempo pascal: a Páscoa foi o momento em que Cristo demonstrou ser o bom pastor que dá a vida por suas ovelhas. Os fariseus são os pastores assalariados que odeiam o que fazem e às ovelhas mas se mantém nos seus cargos pelo dinheiro, pela fama, pela sensação de poder.

        Depois da cura do cego de nascença, muitos acreditam em Jesus como o Enviado - são ovelhas que escutam a voz do pastor e o conhecem. Mas os fariseus aproveitam-se do fato da cura ter-se dado no sábado para acusar Jesus e dividir a opinião do povo. Jesus deixa claro que ele tira do aprisco somente as ovelhas que são suas, ou seja, aquelas que pelo convívio com ele desenvolveram a intimidade e se consideram dEle. Ele chama cada uma por seu nome pois as conhece profundamente. Em certos países da Europa, as ovelhas são criadas especialmente pela carne; em Israel se criavam sobretudo pela lã e pelo leite. Por isso, permaneciam anos e anos em companhia do pastor, que acaba por conhecer o caráter de cada uma e chamá-la com algum afetuoso apelido. Tirar do aprisco significa libertá-las das amarras e do jugo pesado imposto pelas autoridades farisaicas. As ovelhas de Jesus são livres. Ele vai á frente delas e elas o seguem com prazer, pois sabem que suas vidas estão protegidas pelo Pastor dos pastores. Mas dos fariseus o povo corre, pois não reconhece na voz deles, ordens de quem quer fazer-lhes o bem. CONTUDO, OS FARISEUS AINDA NÃO COMPREENDEM.

 

Então Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes deram atenção. Eu sou a porta. Quem entrar por mim estará salvo: há de entrar e sair e encontrará pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância».

 

Jesus indica claramente que ele é único como porta por onde devem entrar todos os pastores de Israel. Ou seja, os reis ou dirigentes messiânicos de Israel devem se ajustar ao único verdadeiro que é ele, Jesus. Quem não entra, como os apóstolos, pela sua porta, não pode ser verdadeiro pastor.

Todo aquele que não se compromete com Jesus e seus ensinamentos não pode ser verdadeiro pastor das ovelhas que constituem os súditos do reino.

Quem eram esses falsos pastores que não entraram pela porta de Jesus? Pela história sabemos de alguns deles eram Teudas e Judas o Galileu segundo At 5,6. A história profana fala de um tal Ezequias capturado por Herodes quando governador da Galiléia em 47/46 a.C. e executado. Mas de maneira geral falsos pastores são mesmo os fariseus, que como já foi dito, não usam de sua posição de líderes para servir, mas para serem servidos e honrados na frente de todos, desprezando e julgando injustamente todo aquele que se põe em defesa da liberdade e da verdade. Esse tipo de pastor, no fundo ladrão, não vem senão para se aproveitar das ovelhas e não as conduz para uma vida realmente livre, mas as mantém sob o peso da opressão, alimentada pela ignorância  e falta de espírito crítico. A essa voz  as ovelhas não dão atenção. Já Jesus vem para nos conceder nosso dom e direito mais precioso, a vida e o livre arbítrio pelo qual podemos dar-lhe nosso assentimento e segui-lo por onde for, dispondo-nos a fazer de nossa vida serviço e doação aos que estão ao nosso redor.

        São muitas as lições práticas que podemos tirar desse discurso.

 

Sob o ponto das pessoas com cargos/serviços de liderança na comunidade eclesial e na sociedade - nós como pastores/líderes: Jesus é a porta pelo qual se chega às ovelhas. Só entra pela porta do aprisco o líder que estiver sintonizado com o pensamento de Jesus que escutamos na quinta-feira santa, Ceia do Senhor: "Se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros" (João 13.14). Quem estiver ocupando um cargo de liderança, mas não o está usando para servir aos outros, não está interessado pelo bem dos outros e não é verdadeiro líder, mas ladrão e enganador. Pensemos nas pessoas que elegemos para nos representar nas prefeituras, governos estadual e federal. Pensemos em quem está à frente nossa comunidade. Pensemos em nós como pais, mães, líderes na escola ou no nosso grupo de amigos. Estamos assumindo uma atitude de serviço e doação ou estamos aproveitando nossos postos para engrandecimento próprio?

 

Sob o ponto de vista individual, nós como ovelhas: Jesus convive conosco? Está sempre ao nosso lado? Estamos nos deixando conduzir por ele? Conhecemos a sua voz e obedecemos a sua Palavra ou estamos nos deixando levar pelas palavras dos ladrões e enganadores...

- que querem aprovar a lei do aborto se dizendo Católicas com o Direito de Decidir;

- que querem exterminar embriões que dizem ser para salvar outras pessoas nas pesquisas com células tronco quando antes, é para se livrarem de uma culpa moral por haverem congelado tanta vida em laboratório;

- que querem que entremos num ritmo de consumo frenético para aliviar o vazio existencial causado pela falta de valores;

- que querem manipular nossa opinião através de veículos de comunicação de massa tendenciosos com informações que contrariam a Palavra de Deus.

QUE VOZ ESTAMOS ESCUTANDO? A VOZ DO CRISTO OU A VOZ DAS MODINHAS?

 

IRMÃOS, não importa o que fizemos até aqui! Se estamos longe, a luz do Cristo Ressuscitado nos alcança e nos trás uma nova visão de nossa vida e do mundo. Basta que nos entreguemos a Ele. Basta que digamos que queremos ser ovelhas do seu aprisco. Ele está conosco! VIVO! ATUANTE! Sendo pastores ou ovelhas, líderes ou liderados, temos nEle nosso amparo, nossa proteção, nossa certeza de que nada nos faltará se a Ele entregarmos o comando. Se estamos sempre com Ele e reconhecemos sua voz e a obedecemos, peçamos-lhe que nos dê a graça de comunicar a outras vidas essa maneira de viver.

 

SENHOR, BOM PASTOR, CONFIAMOS QUE MESMO QUANDO PASSARMOS POR VALES SOMBRIOS, ESTARÁS À NOSSA FRENTE A NOS CONDUZIR PARA PASTAGENS VERDEJANTES E ÁGUAS TRANQUILAS! FAZE-NOS REPOUSAR NA TUA PRESENÇA, NA CERTEZA DE QUE QUANDO CONTIGO ESTAMOS TUDO PODEMOS! AMÉM!

 

Atenciosamente,
 
Humberto Selau Inácio
humberto@ciser.com.br



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